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terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Poema - Café cheio de militares em Luanda

O jovem Don Juan de braço ao peito
(por um dedo entrapado)
debruça as barbas para a mesa ao lado
numa insistência pública de macho
que teima em conversar a rapariga
(no dedo aliança, azul em torno dos olhos)
a escrever cartas e a enxotá-lo em fúria.

Um outro chega e senta-se de longe.
Cara rapada, pêlo curto, ombros erguidos,
é dos que o queixo pousam sobre as mãos,
e de entre o fumo lento do cigarro,
dardejam olhar fito para a presa
- é dele, é dele, os olhos dizem tesos.
Numa outra mesa, três outras fardas miram
de esguelha, enquanto falam vagamente atentos,
e os olhos ínvios de soslaio despem
a pouca roupa da que escreve à mesa.

Feito já seu papel para que conste,
oh ares de cavalão... outras à espera...
o Don Juan comenta pró criado a vítima,
saída num repente. Riem-se ambos.

Quando ela se ia embora, dois empatas
entraram e sentaram-se na mesa
do que ficara olhando o espaço aberto
pela partida dela. Conversam que ele não ouve.

Gingando a barba mais o braço ao peito,
vai-se o vencido (pagará uma puta,
para amanhã contar como dormiu com esta).

Os outros três, mais tarde, em casa, na retrete,
vão masturbar-se a pensar nela (e voltarão
amanhã ao café para contarem
de uma grande conquista que fizeram todos).

E aquele que – quem sabe – era a quem ela
acaso se daria (ou será que ele
é dos que só penetra com o olhar suspenso?)
foi quem não teve nada. Olhou demais,
e não saiu a tempo de escapar
à companhia idiota dos seus dois amigos.

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